Islamistas visam cristaos ‘onde quer que possam pega los’

Em 2006, quando o Papa Bento XVI citou a História, considerada pouco lisonjeira ao Islam, cristãos por todo o mundo islâmico pagaram opreço: seguiram-se distúrbios anti-cristãos, igrejas foram queimadas e uma freira foi assassinada na Somália. Isto, naquela ocasião. Dias atrás, quando um cristão egípcio foi acusado de namorar uma muçulmana, vinte e duas casas de cristãos foram incendiadas aos gritos de “Allah Akbar.” Há incontáveis outros exemplos de um grupo de cristãos no mundo muçulmano sendo punidos em resposta a outros cristãos.

Na verdade, o recente massacre em Bagadá, no qualislamistas invadiram uma igreja durante a missa, matando mais de cinquenta fiéis cristãos, foi uma “resposta” à Igreja Cristã Copta do Egito, que os islamistas acusam de sequestrar e torturar muçulmanas para que se convertam ao Cristianismo (mesmo que a bem-documentada realidade no Egito seja que os muçulmanos sequestram regularmente e obrigam as cristãs a se converterem ao Islam). Além disto, os islamistas filiados à al-Qaeda que perpetraram o massacre na igreja de Bagdá ainda ameaçaram os cristãos do mundo todo:

Todos os centros, organizações e instituições, líderes e seguidores cristãos são alvos legítimos para os mujahedeen (combatentes da fé) onde quer que eles possam pegá-los... Estes idólatras [os cristãos do mundo] e, à sua frente, o tirano alucinado do Vaticano [o Papa Bento 16], sabem que a espada assassina não será erguida do pescoço de seus seguidores enquanto eles não declararem sua inocência em relação ao que o cão da Igreja Egípcia está fazendo.

É claro que a frase “onde quer que possam pegá-los” é uma indicação de que são os cristãos do mundo muçulmano que serão especialmente visados - já que são os mais fáceis de todos de serem pegos.

Este fenômeno - atacar um grupo de cristãos ou não-muçulmanos em geral, em resposta a outro - tem suas raízes na lei islâmica. O Pacto de Omar, um texto fundador para o tratamento dos dhimmis (i.e., não-muçulmanos que se recusaram a se converterem depois que suas terras foram tomadas pelo Islam) deixa isto claro. As consequências da quebra de qualquer uma das condições debilitantes e humilhantes que os cristãos eram obrigados a aceitar a fim de terem algum grau de compromisso por parte estado muçulmano - incluindo coisas como ceder seus assentos aos muçulmanos, como um sinal de “respeito” - eram claras: “Se violarmos de qualquer forma as promessas das quais nós mesmos somos a fiança, nós abandonamos nossa aliança [dhimma], e nos tornamos sujeitos às penalidades por contumácia e sedição [ou seja, ficam vistos como infiéis “desprotegidos” e assim expostos ao mesmo tratamento, incluindo a escravidão, a rapina e a morte.]”

Além do mais, as ações do indivíduo afetam o grupo inteiro - daí o componente da condição de “refém” (todo mundo está sob ameaça para assegurar que todo mundo se comporte). Como Mark Durie aponta, “Mesmo uma ruptura por parte de um só dhimmi individual pode resultar na jihad sendo empreendida contra toda a comunidade. Os juristas muçulmanos deixam claro este princípio. Por exemplo, o jurista iemenita al-Murtada escreveu que “O fato de que um só indivíduo (ou um só grupo) entre eles quebrou o estatuto é o bastante para invalidá-lo para todos eles.” (A terceira escolha, p.160).

Este princípio, de que as ações de um só afetam a todos, é regularmente posto em prática no Egito. De acordo com o bispo Kyrillos, “toda vez que há um um rumor de um relacionamento entre um copta e uma moça muçulmana [ o que é proibido, na lei islâmica] toda a comunidade copta tem que pagar o preço: ‘Isto aconeceu em Kom Ahmar (Farshout), onde 86 imóveis da propriedade de coptas foram incendiados; em Nag Hammadi, onde fomos mortos e além de do mais, eles incendiaram 43 casas e lojas; e agora na vila de Al-Nawahed, só porque um rapaz e uma moça estavam caminhando lado a lado na rua, o lugar inteiro é destruído.” [Dextra falou sobre este último casoaqui]

Pior: na medida em que o mundo continua a encolher, os cristãos indígenas do mundo muçulmano passam a se confundir com seus correligionários livres do Ocidente: a percepção que se tem destes afeta o tratamento daqueles; raça ou geografia não importam mais; a religião em comum os torna todos responsáveis uns pelos outros. Um dhimmi é um dhimmi é um dhimmi.

Além do massacre na igreja de Bagdá, por exemplo, os cristãos do Iraque são há muito visados “devido a seus laços religiosos com o Ocidente... os cristãos foram particularmente visados com ataques a bomba a igrejas e tentativas de assassinato devido a uma percepção que havia de uma associação com as intenções das forças de ocupação.” Não surpreende que mais da metade da população dos cristãos do Iraque emigrou do país desde que os Estados Unidos derrubaram o regime de Saddam.

Os precedentes deste fenômeno são abundantes. Enquanto que os coptas de hoje são citados como a razão por trás do massacre dos cristãos iraquianos, há quase um milênio atrás os coptas eram massacrados quando seus correligionários ocidentais - os cruzados - faziam incursões nos domínios do Islam. Mais uma vez, a lógica era clara: vamos punir estes cristãos porque nós podemos, em resposta àqueles cristãos.

Deve-se observar que esta atitude aplica-se a todos os grupos não-muçulmanos - judeus, hindus, budistas, etc.- vivendo em meio a maiorias muçulmanas. Entretanto, como os cristãos são a minoria infiel mais visível no mundo islâmico, a maioria dos exemplos modernos envolve eles. Os coptas são especialmente visados porque constituem o maior bloco cristão no Oriente Médio. (Séculos antes das conquistas muçulmanas, o Egito era um pilar do Cristianismo e pode-se dizer que Alexandria era igual a Roma em autoridade. O resultado é que, após séculos de perseguição, ainda há uma presença cristã visível no Egito - para grande pesar dos islamistas.)

Tratar as minorias não-muçulmanas como reféns pode até ter consequências não-intencionais. De acordo com a autora judia Vera Saeedpour, o governo turco pressionou a diplomacia israelense, inclusive ameaçando “as vidas e os meios de subsistência dos 18 000 judeus” na Turquia:

“Na primavera de 1982, quando os judeus planejaram uma Conferência Internacional sobre o Genocídio, em Tel Aviv, eles convidaram os armênios para participarem. Ancara protestou. O governo israelense agiu rapidamente para fazer os organizadores cancelarem o convite, insistindo em que a conferência ameaçaria “o interesse humanitário dos judeus.” O New York Times explicou o que significava “interesse humanitário”. Os organizadores ouviram do governo israelense que a turquia pretendia cortar relações diplomáticas e tinha ameaçado “as vidas e os meios de subsistência dos 18 000 judeus” no país (NYT, 03/06/82 e 04/06/82). Para fazer a mensagem ser ouvida, Ancara até mandou uma delegação de judeus de Istambul, que alertaram que eles poderiam estar em risco se a conferência incluisse armênios. O responsável pela conferência, Elie Wlesel, foi primeiro citado como tendo dito: “Não vou discriminar os armênios, não vou humilhá-los.” Depois, citando ameaças às vidas dos judeus na Turquia, ele deixou o posto.”

Tudo isto é um lembrete de que um outro aspecto ainda da doutrina e história islâmicas - a ser acrescetada à jihad, taqiyya, wala wa bara, etc. —está viva e passa bem no século 21. Tratar um grupo de não-muçulmanos como reféns, para serem maltratados como forma de retaliação a seus correligionários - longe ou perto, individual ou coletivamente - é só mais uma tática para obter poder sobre os infiéis.

Raymond Ibrahim, a specialist in Islamic history and doctrine, is the author of Defenders of the West: The Christian Heroes Who Stood Against Islam (2022); Sword and Scimitar: Fourteen Centuries of War between Islam and the West (2018); Crucified Again: Exposing Islam’s New War on Christians (2013); and The Al Qaeda Reader (2007). He has appeared on C-SPAN, Al-Jazeera, CNN, NPR, and PBS and has been published by the New York Times Syndicate, the Los Angeles Times, the Washington Post, the Financial Times, the Weekly Standard, the Chronicle of Higher Education, and Jane’s Islamic Affairs Analyst. Formerly an Arabic linguist at the Library of Congress, Ibrahim guest lectures at universities, briefs governmental agencies, and testifies before Congress. He has been a visiting fellow/scholar at a variety of Institutes—from the Hoover Institution to the National Intelligence University—and is the Judith Friedman Rosen Fellow at the Middle East Forum and the Distinguished Senior Shillman Fellow at the Gatestone Institute.
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